Por Miguel Lucena – Advogado e jornalista
Todo ano, a cena se repete: enquanto o povo canta e dança, algum profeta do apocalipse aparece para anunciar o fim dos tempos. Desta vez, um senhor de olhar severo gravou um vídeo indignado, como se a alegria alheia lhe causasse dor física. Criticou foliões por brincar o Carnaval e acusou as autoridades de se aproveitarem da festa para roubar mais, como se a corrupção fosse irmã do frevo e a malversação pública marchasse ao ritmo das baterias.
Gente assim ignora que o Carnaval é tradição, herança cultural e respiro coletivo. Desejam um mundo cinza, sem folia, sem cor, sem risos. Para eles, a felicidade é uma afronta, uma desordem. Mas o povo sabe que sua alegria não é fuga – é resistência. O Carnaval passa, a vida segue, e a luta continua. Mas, enquanto houver música, sempre haverá quem dance, apesar dos agourentos.