A pipoca e o instinto de sobrevivência

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Por Miguel Lucena

Hoje, às 16h, no Cinemark do Shopping Iguatemi, Brasília testemunhou um espetáculo que faria até as filas da Black Friday parecerem encontros de meditação. O motivo? Uma promoção de pipoca: R$ 19 para levar o quanto conseguisse carregar. E, como bons brasileiros, aceitamos o desafio com criatividade, destemor e um ligeiro toque de insensatez.

A cena parecia um estudo sociológico sobre os limites do consumo desmedido. Nada de simples baldes de cinema: a galera trouxe estratégia e infraestrutura. Quem chegou com uma singela embalagem foi rapidamente humilhado por veteranos da arte da barganha, que trouxeram bacias de lavar roupa, coolers, caixas de isopor, sacolas de supermercado e até baldes de ração para cachorro. Faltou só um caminhão-pipa para pipoca, mas acho que é questão de tempo.

Um rapaz, claramente preparado para a batalha, chegou carregando um carrinho de feira forrado com plástico. Outro, vestindo um olhar de missão dada é missão cumprida, encheu uma mala de viagem e saiu arrastando seu tesouro pipocástico pelo shopping, provavelmente já pensando no tráfico de saquinhos entre amigos e familiares.

Dentro do cinema, a cena era quase mitológica: pessoas equilibravam pipocas como deuses olímpicos manejando raios. Uma senhora desapareceu atrás de um balde de 50 litros e emergiu depois, qual Fênix, empanturrada, mas vitoriosa.

Ao final, entre risadas, grãos espalhados pelo chão e um cheiro irresistível de manteiga pairando no ar, ficou a grande lição: não se subestima um brasileiro quando a palavra “promoção” está em jogo. A única coisa que superou o tamanho das porções foi a certeza de que, hoje, ninguém foi ao cinema para ver filme. Foram para ver o verdadeiro espetáculo da natureza humana diante do milho inflacionado.

 

 

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