A nomeação de Wolney Queiroz — continuidade ou conivência?

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Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado da Ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann dá posse a Wolney Queiroz Maciel como Ministro de Estado da Previdência Social. Palácio do Planalto. Foto: Ricardo Stuckert / PR

Substituição na Previdência segue a lógica da proteção política sem o compromisso com a moralização da gestão pública

 

Por Carlos Arouck

A escolha do sucessor de Carlos Lupi em meio a um escândalo bilionário no INSS levanta questionamentos sobre a real disposição do governo em enfrentar as próprias falhas

A nomeação de Wolney Queiroz Maciel como novo ministro da Previdência Social, em meio ao escândalo bilionário de fraudes no INSS, representa mais do que uma simples troca de nomes no governo Lula: é o reflexo de um sistema político que prefere blindar aliados a encarar com seriedade as consequências da própria omissão.

 

 

Queiroz, histórico quadro do PDT e braço direito de Carlos Lupi, seu antecessor, não chega ao cargo como reformista nem técnico independente. Pelo contrário: foi secretário-executivo da pasta, participou de decisões estratégicas e esteve em reuniões em que denúncias de fraude foram diretamente ignoradas. Isso o torna corresponsável — se não juridicamente, ao menos politicamente — pelo descontrole institucional que permitiu o avanço de um esquema que desviou mais de R$ 6 bilhões dos cofres públicos. E pior: dinheiro que deveria ir para os aposentados mais pobres do país.

O caso mais evidente dessa conivência institucional ocorreu em junho de 2023. Durante uma reunião do Conselho Nacional de Previdência Social, da qual Queiroz participou, foram feitas denúncias claras sobre as fraudes nos benefícios rurais. A resposta? Nenhuma. O silêncio durou quase um ano. A máquina pública só se mexeu quando o escândalo explodiu na imprensa e ficou impossível de esconder.

Outro ponto crítico: Queiroz se reuniu com representantes da Contag, uma das entidades sob investigação por suposto envolvimento nas fraudes. A reunião, embora institucional, ocorreu em um contexto de alerta e deveria ter motivado maior cautela. Não motivou. O governo seguiu ignorando os sinais. O encontro pode não provar dolo, mas comprova, no mínimo, descuido grave diante de denúncias já conhecidas.

A escolha de Queiroz expõe também a fragilidade ética da coalizão governista. A permanência do PDT à frente da Previdência — mesmo após o desgaste de Carlos Lupi — não se explica por mérito técnico nem por sinalização de mudança, mas pela lógica da acomodação política. Em nome da governabilidade, evitou-se um racha. Mas, na prática, premiou-se a omissão com promoção.

O novo ministro terá agora a difícil tarefa de recuperar a credibilidade de uma pasta corroída por escândalos. Suas promessas de reforçar a fiscalização soam mais como controle de danos do que como sinal de mudança.

Enquanto isso, quem paga a conta são os aposentados. As vítimas principais do esquema seguem esperando não só justiça, mas respeito. Não poderia ter um exemplo pior de administração conduzida por um partido dito de trabalhadores que lesar um aposentado depois de anos dedicados a trabalhar, recebendo um salário pequeno ao final da vida.

Nomear alguém diretamente vinculado ao centro do problema para liderar a solução parece menos uma tentativa de correção e mais uma manobra para preservar aliados. A nomeação do número dois de Lupi não é esse gesto. É um recado que mostra a falta de percepção da gravidade do problema. Um recado ruim.

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