Por Miguel Lucena – Advogado, jornalista e poeta
Morreu Afonso Romano de Sant’Anna. Mas, para quem escreveu versos que ressoam como ecos da própria vida, morrer é só um detalhe. Em 1988, numa roda de pseudos-intelectuais em São Paulo, ousei elogiar sua poesia. “Quem?” – perguntaram, entre goles de vinho barato e certezas vazias. Entendi, ali, que há diálogos que não valem o esforço.
Afonso era verbo em estado de ebulição. Fez da palavra um espelho do tempo, como em Que país é este?, denúncia ainda urgente. Sabia que “o poema é uma garrafa no mar”, e jogou ao mundo mensagens que jamais se perderão. Cantou a angústia do tempo ao dizer: “Um dia se constrói uma casa. / Noutro se constrói o esquecimento”. E, em meio às sombras da história, lembrou que “não há degredo que degrede o sonho”.
Hoje, sua poesia se desenlaça da matéria e se espalha no infinito. Que ele continue versejando pela eternidade, onde, enfim, todos os leitores saberão reconhecê-lo.