Por Miguel Lucena
Hoje é 1º de abril, oficialmente o Dia da Mentira. Um dia dedicado à arte de passar os outros para trás com estilo — desde que seja só por brincadeira. É quando o chefe avisa que vai dar aumento, o amigo diz que parou de beber e ladrão promete parar de roubar. Risos, muitos risos — até que se perceba que essas promessas foram feitas também em todos os outros dias do ano.
A verdade é que a mentira não tem data marcada. Ela circula à vontade no calendário, com crachá de acesso livre, sem precisar bater ponto. A mentira acorda cedo, toma café com a gente e ainda dá tchau no espelho. Está nas juras de amor eterno que duram o tempo de um Wi-Fi estável, nas promessas de campanha esquecidas no palanque, nos produtos “milagrosos” que prometem emagrecer sem dieta, sem esforço e sem vergonha.
Até a natureza mente. O camaleão finge ser folha. A orquídea se disfarça de inseto para atrair parceiros. O peixe-mentiroso — sim, ele existe! — se enterra na areia e espera que a comida venha até ele. E a gente, inocente, achando que só o ser humano é mestre em enganar.
As plantas também não são santas. Algumas se fingem de inofensivas, mas têm espinhos traiçoeiros. Outras soltam perfume só para seduzir abelhas trabalhadoras. E tem árvore que parece estar morta, mas do nada explode em flores. Ilusão botânica.
E nós? Ah, nós somos craques no autoengano. Dizemos que segunda-feira começamos a dieta, que amanhã vamos dormir cedo, que “só mais esse episódio e vou parar”. Vivemos entre pequenas farsas e grandes esperanças. A mentira, às vezes, é só um jeito de a verdade não doer tanto. Outras vezes, é um jeito esperto de escapar dela.
Mas sigamos celebrando esse 1º de abril com leveza. Afinal, ao menos hoje, todo mundo está autorizado a mentir com honestidade.
O problema é que tem gente que faz disso profissão.
Porque, sejamos francos: o Dia da Mentira é todo dia.