A LÓGICA DA CORRUPÇÃO NO BRASIL

Compartilhar:
Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram

 

O imaginário coletivo brasileiro apresenta curiosidades quanto ao que, de fato, seria o fenômeno da corrupção. As percepções ainda apresentam sutilezas – ora com visões arrebatadoras, policialescas e vingativas; ora com autoaceitação, quando colocados como sujeitos de um ato administrativo. A corrupção no Brasil atenderia à lógica aventada por Jean-Paul Sartre – para quem o inferno é os outros. Desvelada a lógica da corrupção, certos fenômenos que não pareciam fazer parte do campo da corrupção mostram sê-lo, enquanto outros o são apenas para o senso comum.

 

O processo de corrupção é alimentado por uma lógica contraditória. De um lado, o cidadão enxerga a corrupção apenas no aparelho estatal; por outro lado, o mesmo reconhece que seria capaz de cometê-la na vida privada – inclusive para ajudar familiares, conforme pesquisas de Alvritzer e Filgueiras. Por ausência de autocrítica, o cidadão brasileiro não se considera sujeito de si mesmo; mas consegue sempre apontar a Administração Pública, como responsável pelas mazelas da corrupção.  Essa visão moralista, e a recusa em sustentar essa contradição, conduz o sujeito à renúncia da própria participação política.

 

Na sociedade capitalista atual, marcada por um conjunto de variadas nuances, é praticamente impossível situar o individuo num ambiente seguro para margear uma pesquisa que possa abranger de fato uma dimensão mais segura quanto ao alcance do que se entende por corrupção. Assim é necessário ficar atento à advertência levantada por Newton Bignotto, in Corrupção e Sistema Político no Brasil – obra organizada pelos cientistas políticos Leonardo Alvritzer e Fernando Filgueiras. Para Bignotto, convém lembrar que compreender o fenômeno da corrupção, se faz necessário situar o cidadão na vida pública e da maneira pela qual o poder exerce suas funções; e de fato, com a lei é percebida pela população. Somente dessa forma, podemos afastar equívocos, diariamente alimentados pela imprensa, mídias e redes sociais.

 

 

O Brasil como sociedade moderna – e sempre ausente de espaço público – atingiu atualmente o grau de sociedade do espetáculo. O capitalismo conduz as sociedades àquilo que já chamava atenção Guy Debord, em obra homônima, no final dos anos 60. Isso nos levar a concluir que, toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido se esvai na fumaça da representação.  As imagens fluem desligadas de cada aspecto da vida e fundem-se num curso comum, de forma que a unidade da vida não mais pode ser restabelecida. A realidade considerada parcialmente reflete em sua própria unidade geral um pseudomundo à parte, objeto de pura contemplação.

 

Assim, a sociedade manipulada, analfabeta funcional e politicamente, passa a perceber a corrupção de maneiras enviesadas – passando a culpar o Estado por todos os mecanismos de corrupção. Não percebe que isso atende aos interesses das elites para criminalizar sempre a política; a política enquanto poder daqueles que não têm poder. E alimentada diariamente pelas mídias sociais e imprensa colonizada – a transformar a notícia enquanto espetáculo -, a própria sociedade apresenta comportamentos contraditórios quanto ao fator corrupção. É sabedora dos efeitos nefastos da mesma para o nosso ambiente político, social e econômico; entretanto, por ausência de uma educação pública de qualidade, falta-lhes uma consciência pública quanto a assumir a corrupção na vida privada. E como o brasileiro adora culpar o outro – o Estado responde por tudo.

 

E no país do vale tudo, a corrupção continua livre, solta, mas pesada para a cidadania brasileira; o que nos faz lembrar a máxima de Maquiavel: “para manter os bons costumes são necessárias as leis, da mesma forma, para que as leis sejam respeitadas são necessários os bons costumes”. E perguntamos como Rui Barbosa, a lembrar do próprio florentino – a lei está aí, mas quem há de cumpri-la?

*José Gadêlha Loureiro, professor de História e Secretário Geral da ADEEP-DF (Associação de Diretores e Ex-diretores das Escolas Públicas da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal).    Siga-nos – Instagran: @prof.gadelhadf

Mais lidas

Lula indica Carlos Brandão para vaga no STJ
CPI das Bets aprova condução coercitiva de...
Clima tenso: Marina reage a ataques e aban...
...