O estudante enquanto estudante não pode perguntar ao professor o que é ser professor, sem antes perguntar o que é ser estudante. E se o estudante enquanto estudante não respeitar saberes e não depositar confiança na autoridade pedagógica daquele que recebeu formação orgânica, não se dá aprendizagem – apenas desencontros pessoais. E no máximo, aprendizagens formais. Já alertava Hannah Arendt que se pode aprender até o fim da vida sem, no entanto, jamais se educar.
É da natureza fundante do magistério iniciar, criativamente, o estudante na realidade do mundo e na dialética da vida, constituindo nos educandos seu locus – lugar de pertencimento à comunidade social, – na qual nasceu e da qual fará parte enquanto sujeito da polis, que atua de forma crítica e participativa, assumindo as consequências de seus atos. E para isso, o professor está investido de princípios pedagógicos – necessários à constituição de sujeitos dotados de autonomia e valores para agir com responsabilidade e compromisso social, legando às futuras gerações um ambiente menos consumista e mais sustentável. Afinal, o presente que se ignora vale o futuro, lembrava-nos Machado de Assis.
A verdadeira dimensão do ato de ensinar, tão descaracterizado nesses tempos de internet – onde todos posam de professores sem formação alguma -, precisa ser valorizada diante dos apologistas midiáticos, da descrença de saberes e de valores que a humanidade levou milhares de anos para nos legar. Ser professor é professar a luz dos saberes e do conhecimento àqueles que vivem às trevas do mundo midiático – com a ilusão de que já sabem, apenas porque a realidade lhes é apresentada via internet.
A realidade sempre foi apresentada à humanidade, mas sempre necessitou e necessitará de um mediador – aquela ponte dialética ser humano – mundo. Primeiro, são os pais, a família; depois vem a escola, para cortar o segundo cordão umbilical, ou seja, a separação entre privado (família) e público, espaço de vivências e convivências – a sociedade. E quem é esse mediador público? O professor; sujeito investido de autoridade pedagógica para inserir o estudante nesse novo mundo – o mundo das aprendizagens e do conhecimento, necessários à preservação da memória e herança históricas.
A dimensão humana do professor, como agente de informação, formação e transformação, coloca sempre um novo horizonte para a sociedade humana, através da Educação Pública – lugar de constituição da linguagem de continuidade e de expansão dos grupos humanos, sempre associados à ética e à cultura – como bem expressa Muniz Sodré.
Por isso, uma sociedade sem professores, não pode apresentar respostas aos desafios das futuras gerações. Afinal, já dizia um dos maiores pensadores, Karl Marx, se a aparência e a essência da realidade fossem iguais, a ciência seria desnecessária. E acrescente-se, o professor!
José Gadêlha Loureiro, professor de História da SEEDF e Diretor do CEM 09 de Ceilândia.