Por Miguel Lucena
Em 1976, ano de seca e de saias curtas, o bloco carnavalesco Os Arapapacas decidiu que precisava de um líder com pompa e tradição. Inspirados pelo Vaticano – onde se elege Papa com fumaça branca –, resolveram fazer igual, só que ao estilo do Cancão.
Trouxeram lenha do Sítio Gavião, montaram a fogueira bem no cruzamento com a Rua do Meio e começaram a “conclavejar”. Os nomes disputados eram dois titãs da folia: Luizim de Calü, mestre do reco-reco e do banho de quartinha, e Cumpade Ruscano, que já desfilava com um chapéu de frevo e um bigode de respeito.
Como ninguém ali tinha ouvido falar em lactose, compraram talco e maisena no armazém de seu Dedeca, pra simular a fumaça branca da escolha. Mas aí veio o contratempo: Dada, Chico Prego e Nando de Antônio Belo passaram antes em Pedro Fogueteiro, adquiriram cinco bombinhas tipo “peido de véi” e jogaram tudo na fogueira cerimonial.
O resultado foi uma revoada de brasas que quase incendiava as anáguas de Dona Quitéria, e a fumaça ficou tão turva que o povo achou que tinha sido eleito um Papa do Agreste.
No fim, quando a poeira – e o talco – assentou, a aclamação foi para Cumpade Ruscano, que reinou absoluto no bloco até seus 90 anos, sambando miudinho e jurando que um dia ainda ia conhecer Roma. Mas dizia sempre: “Vaticano é bonito, mas aqui no Cancão a fumaça é mais animada”.