A EDUCAÇÃO PÚBLICA E A TRAGÉDIA DE SUZANO

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Por José Gadêlha Loureiro

Darcy Ribeiro, antropólogo e um dos grandes pensadores da sociedade brasileira, alertava nos anos setenta que se o Brasil não investisse primordialmente em educação, iria faltar dinheiro até para construir presídios. Realmente, os anunciados dos grandes homens e grandes mulheres revelam-se como profecias – tem o dom premonitório das tragédias anunciadas. E de tragédia em tragédia, bradamos com verborragia moralista, apontando culpados e soluções midiáticas.

No Brasil – já que não temos projeto de nação – as elites atuam de forma cruel e nojenta para destruir intencionalmente a educação pública – única locomotiva capaz de transportar os vagões do processo civilizatório e avançar com perspectiva de futuro. Por isso o descaso com a escola pública não é um mero descaso – é um monstruoso e desumano projeto das elites brasileiras, no dizer do mestre criador da UnB e dos CIEPS, para quem o Brasil não pode dar certo para o povo, e fique refém da mentalidade escravista, gerando no imaginário coletivo um sentimento de impotência social. Esse sentimento leva a descrença e sensação de que nada muda. Não educar o povo e mantê-lo refém das elites do capital rentista, é a maior forma de corrupção; existe corrupção maior do que matar a esperança de um povo, como dizia Brizola?

E sem um ensino público de qualidade, que faça interciso entre público e privado, o cidadão vira receptáculo das ideias midiáticas alienantes e deseducadoras. E quem são os mais atingidos: crianças, adolescentes e jovens; noutro ângulo, professores diuturnamente sofrem as barbaridades e mentiras dessas ideias colonizadas com aparência de verdade e de políticos que não sabem nem governar sua cozinha, mas se acham no direito de governar o mundo inteiro – como diria Gregório de Matos.

O descaso com o espaço público e, portanto com o sentido de fazer política, nos torna o país das tragédias anunciadas – Museu Nacional, Mariana, Brumadinho, sem falar na mais silenciada de todas: milhares de jovens e adolescentes assassinados… E chegamos a tragédia de Suzano.

E nós, brasileiros e brasileiras, o que temos feito? Onde está a nossa responsabilidade pública? Temos praticado a grande política? Ou estufamos o peito dizendo: “odeio política”, como o analfabeto no poema de Bertold Brecht. E mesmo assim, continuamos a votar e aplaudir em quem quer construir mais presídios que escola; mais venda de armas ao invés de livros…

E manipulados, e alienados e entorpecidos pelos canalhas donos dos espaços midiáticos, estimulamos ainda mais jovens e crianças ao excesso de tecnologia, bens materiais e ausência de leitura; ao excesso de direitos e ausência de deveres sem o mínimo de regras de convivência social; muitos desincumbidos de cumprirem horários de sono, com alimentação desregrada, limites para o que é e o que não é permitido, levando a degradação da autoridade familiar.                

Tudo isso constitui um indigesto caldo a correr no rio das contradições nacionais, vindo desaguar no estuário escola pública – resultando num ambiente escolar emocionalmente conflituoso e inseguro, colocando em risco o processo de ensino aprendizagem e a autoridade pedagógica dos professores.

José Gadêlha Loureiro, professor e Diretor do CEM 09 de Ceilândia

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