Por Miguel Lucena
Hospitais e UPAs vivem lotados porque a doença tem raízes muito mais profundas do que um simples vírus ou bactéria: a maior doença da nossa sociedade é a pobreza.
A pobreza adoece de todas as formas possíveis. Ela gera fome, e a fome destrói a imunidade. Ela gera moradias precárias, onde a umidade, o mofo e a falta de saneamento espalham infecções. A pobreza impede a prevenção, porque quem luta para sobreviver não tem tempo, dinheiro ou acesso para cuidar da própria saúde. Vai ao médico apenas quando a situação já é crítica, quando o corpo, já frágil, desaba.
Além disso, o sistema de saúde, mesmo para quem não vive na miséria, é insuficiente. Faltam médicos para o atendimento básico, faltam vagas para os exames de rotina, faltam estruturas para conter a demanda. O que poderia ser resolvido com uma consulta vira uma internação de urgência.
E não é só. As mudanças no estilo de vida — alimentação ultraprocessada, sedentarismo, estresse — somadas à falta de educação em saúde, fazem as doenças crônicas dispararem: hipertensão, diabetes, problemas cardíacos. Sem acompanhamento contínuo, essas doenças lotam hospitais tanto quanto as epidemias.
Em resumo, a pobreza gera doença, a doença gera pobreza, e a falta de estrutura fecha esse ciclo perverso.
Enquanto não enfrentarmos as causas sociais da doença — desigualdade, fome, habitação precária, abandono da saúde preventiva — continuaremos assistindo, impotentes, à superlotação das emergências. Não há remédio que cure a injustiça social. A verdadeira vacina contra o adoecimento em massa ainda é e sempre será: justiça e dignidade para todos.