A construção da esperança

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O mundo está sendo sacudido: guerras por procuração, crises e catástrofes humanitárias, – como alerta o grande historiador brasileiro, Luiz Alberto de Viana Moniz Bandeira em A Desordem Mundial – o Espectro da Total Dominação. A humanidade nunca esteve tão perto de sua autodestruição – sempre num crescendo de insanidade e falta de espírito público, nunca antes visto. Uma verdadeira marcha da insensatez, alimentada por um jogo midiático, com as armas mais vorazes construídas pelas empresas de “tecnologias de destruição em massa”!

Hoje, assistimos passivamente a elaboração desse tecido mortal de duas formas: por um lado, a construção gradativa da mentira pelas “elites digitais”, como paralelo à verdade; e por outro lado, com a falsa lógica do convencimento – sobre aqueles que passam pela escola, mas não aprendem a ler o mundo. Dessa forma, a mentira estará enraizada mental e socialmente; e a verdade, desacreditada. Logo assim, desconstruindo a verdade, a mentira virá facilmente de sobremesa, nas redes e mídias digitais, com aparência de pura e cristalina verdade!

Mas o que fazer diante dessa situação? Qual saída? Qual caminho trilhar? Não existem saídas! Mas curiosamente, há um caminho, se você cara leitora e você caro leitor consideram que os caminhos são construídos ao caminhar… A grande questão é que até agora temos cultivado apenas a lógica do medo, e caminhamos de braços dado com o medo, – apenas isolando as pessoas e pintando cenários catastróficos ou soluções mirabolantes. O medo não cria laços comunitários! O medo cria apenas ilusões do tipo “não há saída”; a “situação é essa mesma”; o “certo mesmo é se conformar”!

Para a lógica neoliberal, as coisas se portam dessa maneira – o mundo é dado como pronto e acabado; ocorre que, para cada problema colocado diante de nós – seres humanos que nós achamos mais racionais que os outros animais – devemos lembrar, queira ou não, os capitalistas midiáticos, que há sempre uma solução; e só compete a nós próprios, a construção dessa saída, – conforme nos alertava há mais de cento e cinquenta anos, o filósofo alemão Karl H. Marx, que a exemplo de Jesus, sempre mal lido e mal citado!

A construção das saídas, não passa por pontos de fugas, tão corrente nos discursos da pós-modernidade, ou ainda melhor, da pós-mentira, como diria o sociólogo Gilberto Felisberto de Vasconcelos. Quando não se busca elaborar soluções, o meio é embarcar num pessimismo atenuante ou num otimismo delirante – o qual elimina e entorpece qualquer possibilidade de sonhos diurnos. Falo de sonhos – sonhos noturnos alimentam a alma; sonhos diurnos, o espírito da esperança. Em comunhão, os dois alimentam ações que levam à construção da caminhada da esperança.

 

É necessário, para completar essa caminhada, libertar da Caixa de Pandora, a Esperança. Faremos essa caminhada, não ao seu encontro; pois na Epístola aos Romanos, Paulo nos adverte: “A esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê, como o esperará?” A esperança é o ainda-não colocado diante de nós; mas esse não surgirá de repente. Será antes de tudo, o que construiremos nessa grande caminhada. Libertar a Esperança da verdadeira “Caixa de Pandora mental” – nossas mentes e corações aprisionados, – e seguir como nos aponta a Al-Mustafá, O Profeta, de Khalil Gibran: “… vocês somente poderão ser livres quando o próprio desejo de busca pela liberdade se lhes tornar um fardo e quando vocês deixarem de se referir a liberdade como uma meta, uma conquista”

“Vocês serão realmente livres não quando realmente os dias deixarem de lhes trazer inquietação, e as noites, desejos ou aflições, mas quando essas coisas cercearem sua vida e, mesmo assim, vocês conseguirem se elevar acima delas (…)”.

“E, para tornarem-se livres, o que vocês devem descartar senão fragmentos de seu próprio ser? Se é uma lei injusta que pretendem abolir, essa lei foi inscrita por suas próprias mãos em sua testa!” (…).

 

E acrescenta o profeta Al-Mustafá. “Na verdade, todas as coisas se movem dentro de seu ser, em constante ambivalência – o desejado e o temido, o repugnante e o que os atrai, o que é buscado e aquilo que vocês evitam. Essas coisas se movem dentro de vocês como luzes e sombras entrelaçadas. Quando a sombra se dissipa e deixa de existir, a luz que permanece se torna sombra para outra luz. Assim, sua liberdade, quando se livra dos próprios grilhões, torna-se ela mesma o grilhão de uma liberdade maior”.

 

Hoje, a essa sociedade dominada pela informação do mundo digital falta-lhe o distanciamento necessário à compreensão da vida, pois, a própria lógica digital, carregada de positividade, e negando o outro diariamente, impede a construção de novos saberes. Somente a esperança – para Bloch – representa esse ímpeto de aperfeiçoar o mundo; um ímpeto inerente à própria realidade. E completa Biung-Chul Han, ao destacar quando Adorno caracteriza a esperança como meio da verdade. Não como algo que já foi, mas como algo que deve ser conquistado contra o falso, contra o pessimamente existente. Isso requer estudo, trabalho e dores!

É mister e urgente uma Pedagogia da Esperança. É falamos em Pedagogia como elemento instaurador de um processo civilizatório – não como slogan de ‘Pátria Educadora’ ou ‘Pátria Amada Brasil’… As elites brasileiras têm apenas projeto de poder – seja à direita, seja à esquerda -jamais projeto de nação!

A verdadeira Política de Esperança Pública – todo o Brasil com Escolas Públicas de período integral.

José Gadêlha Loureiro, professor de História e Secretário Geral da ADEEP-DF (Associação de Diretores e Ex-diretores das Escolas Públicas da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal).

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