Por José Gadêlha Loureiro
Com o advento das tecnologias digitais tem se produzido uma série de escritos sobre pedagogia apontando para diversas possibilidades: pedagogia do olhar, da sensibilidade, da presença, da emoção, pedagogia disso/daquilo – para além da sala de aula. E haja pedagogia e pouca prática pedagógica.
Para L.S. Vygotsky, o ser humano no contexto sócio histórico vai definir o processo de aprendizagem, considerando o conhecimento como um processo de construção no âmbito das relações humanas, desenvolvimento das chamadas inteligências múltiplas, emocionais e afetivas e está relacionada a maneira como o ser humano interage com o meio sócio histórico. Assim temos a ideia básica, segundo F. Engels, de que o mundo não deve ser visto como um complexo de objetos completamente acabados, mas como um complexo de processos em construção dialética: ser-não-ser, afirmação-negação, estagnação-superação. E quem tiver a oportunidade de ler o texto de F. Engels, o papel do trabalho na transformação do macaco em homem, irá verificar fontes de aprendizagem com os desafios colocados ao homem no processo evolutivo da humanidade.
Vemos ainda o quanto é complexo definir o que são inteligências; elas não se apresentam, nem se revelam; não são dados, mas processos de e em construção. Está para a maiêutica socrática – no campo da filosofia. Não se ensina filosofia – pensa-se. É uma travessia do real – sem referência de partida e de chegada; é o indefinido a ser definido, enquanto constituído da práxis.
Por isso, Vygotsky, na perspectiva sócio histórica, procura destacar que o cérebro não seria o locus isolado do conhecimento e nem as emoções se localizariam apenas no corpo; busca antes de tudo relacionar emoções básicas e superiores; emoções e processos psíquicos, tais como: reflexo/raciocínio, tomada de decisão, – considerando ainda que as emoções seriam processos de organismos humanos tornadas funções da personalidade, histórica, social e culturalmente contingente.
Vygotsky – usando as concepções do materialismo histórico de Karl Marx – irá relacionar signos aos sinais (elementos e semânticas psicológicas) capazes de afetar e ser afetados através da mediação de atividades exteriores – numa espécie de teoria dos afetos já levantada pelo filósofo Espinosa, no século XVII. Por isso, o mesmo levou a entender uma mudança de potência do corpo e de sua ideia, podendo para isso, ser imaginativa, ter como sensação, percepção e memória. Para Vygotsky, o instinto seria a capacidade de construir e utilizar instrumentos já organizados mentalmente; o intelecto, por sua vez, seria a capacidade de operar com instrumentos não organizados.
Desse modo, o intelecto estaria também no instrumento e na capacidade de com ele opera construções orgânicas, ou seja, funções no cérebro. Assim sendo, o instinto não representaria uma mera condição natural do homem; e com a atividade instrumental mediatizada pelo intelecto em novos órgãos, ocorrendo uma transformação no processo: a passagem de fora para dentro – processo de apropriação pelo cérebro, chamado de instrumentalização, – desenvolvido posteriormente por Alexis Leontiev.
Vygotsky define então dois níveis de desenvolvimento nesse processo: a zona de desenvolvimento real e a zona de desenvolvimento proximal ou potencial.
Considerando que no desenvolvimento real, o indivíduo já está apto a resolver problemas sozinho, ao mesmo tempo, a zona potencial possui as predisposições necessárias ao estudante para aprender. Por ser dinâmica e ocorrer em um meio sócio histórico, pode se dá de várias formas, mediadas pelo professor, que nessa perspectiva irá criar e adequar recursos pedagógicos para que o estudante aprenda, pois esse se constitui como sujeito ativo do processo de ensino aprendizagem. Assim o fazer pedagógico deve criar espaço-tempo de sentido simbólico, mediado por uma práxis participativa, crítica e criativa, devendo o professor mediar as relações entre o mundo do estar e o do vir a ser constituído pelas aprendizagens: ao professor compete dar sentido ao que está disperso no mundo.
O conhecimento é o que se constrói de forma orgânica nos estudantes e o professor seria colaborador dessa organicidade. Não ocorre aprendizagem na dispersão – essa é o vazio. A dialética do aprender se dá no encontro das partes – com a mediação do professor – que forma o todo – que por relação dialética estudante-professor constitui o ideal da aprendizagem.
Criar habilidades e competências nos estudantes é um conceito há muito discutido na educação pública brasileira, como postuladas pela UNESCO – sob nova roupagem para o século XXI. Envolvem então habilidades intelectuais, emocionais, pensamento científicos e cidadania. Seria necessário conhecimento sobre o mundo histórico, social e digital para que se possa exercitar um pensamento crítico, criativo e participativo, utilizando-se de elementos de diferentes linguagens, seja verbal,ora, digital e corporal.
A partir disso, pode-se construir argumentos envolvendo responsabilidade, projeto de vida, empatia e cooperação, com vistas à construção de um mundo sustentável, capaz de criar autonomia e perspectiva de futuro.

(Professor de História da SEEDF e diretor do CEM 09 de Ceilândia).