Atender o telefone deixa de ser regra 

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Falar ao telefone se torna exceção na era das mensagens

 

Por Simone Salles

O toque do telefone, que por décadas simbolizou urgência e proximidade, vem perdendo espaço no cotidiano, especialmente entre jovens adultos. Para a Geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) e parte dos millennials (nascidos entre 1981 e 1995), atender uma ligação se tornou exceção, não regra. Pesquisas recentes indicam que esse comportamento não é apenas uma preferência passageira, mas um reflexo de mudanças profundas na forma como as pessoas se comunicam, trabalham e se relacionam.

Um levantamento realizado pela plataforma britânica Uswitch, com cerca de 2 mil entrevistados, mostrou que 25% das pessoas entre 18 e 34 anos afirmam nunca atender chamadas telefônicas. Entre os motivos mais citados estão a praticidade das mensagens, o receio de golpes e a sensação de que ligações inesperadas costumam trazer problemas. O mesmo estudo aponta que aproximadamente 70% dos jovens dessa faixa etária preferem se comunicar por texto, seja via aplicativos de mensagem, e-mail ou redes sociais.

Essa transformação aparece também na escolha dos formatos. As mensagens diretas em redes sociais já são a opção favorita para quase metade dos jovens, enquanto os áudios, considerados mais flexíveis do que uma ligação ao vivo, superam as chamadas tradicionais. A lógica é simples: escrever ou gravar permite responder no próprio tempo, sem interrupções e sem a pressão de reagir imediatamente.

Especialistas em comportamento digital e comunicação explicam que essa preferência está ligada ao modo como a Geração Z cresceu, conectada desde cedo à internet, acostumada à comunicação assíncrona e à multitarefa. Para muitos, a ligação telefônica soa invasiva, formal demais ou até antiquada. Não por acaso, mais da metade dos jovens entrevistados associa chamadas inesperadas a más notícias, enquanto quase 70% afirmam que só se sentem confortáveis em falar por telefone quando o contato é agendado previamente.

O contraste geracional ainda é evidente. Entre pessoas com 55 anos ou mais, o telefone segue sendo um canal natural de conversa, e o uso de mensagens ou redes sociais como principal meio de comunicação é bem menos comum. Ainda assim, o fenômeno de ignorar chamadas não é exclusivo dos mais jovens. Cerca de 10% dos adultos entre 35 e 54 anos também admitem evitar atender o telefone, em especial quando o número não é identificado.

No ambiente corporativo, essa mudança já provoca impactos concretos. Empresas que antes dependiam de ligações constantes agora lidam com equipes que preferem plataformas de vídeo conferência Slack, Teams, ou e-mail e WhatsApp. Consultorias de recursos humanos e especialistas em liderança alertam que, embora a comunicação escrita aumente a eficiência e reduza interrupções, o excesso de mensagens pode gerar ruídos, atrasos e dificuldades no alinhamento de expectativas. Evitar conversas por voz pode, ainda, limitar o desenvolvimento de habilidades importantes, como negociação, resolução de conflitos e feedbacks sensíveis.

Por outro lado, a resistência às ligações também não se resume à idade. Questões como privacidade, segurança digital e qualidade de vida entram na conta. O aumento de golpes telefônicos fez com que muitas pessoas, inclusive mais velhas, simplesmente deixassem de atender números desconhecidos. Para outros, a mensagem é apenas mais prática, não exige parar o que se está fazendo, evita conversas longas e permite objetividade.

Diante desse cenário, especialistas defendem um novo “acordo de convivência” na comunicação. Avisar antes de ligar, definir quando cada canal deve ser usado e respeitar preferências individuais são práticas cada vez mais comuns em ambientes multigeracionais. A ligação telefônica não desapareceu, mas ganhou um novo papel: deixou de ser o padrão e passou a ser reservada para situações em que a conversa ao vivo realmente faz diferença.

No fim, o silêncio do telefone não significa falta de comunicação. Pelo contrário, nunca se trocou tanta informação. O que mudou foi o caminho — mais curto, mais escrito e, para muitos, menos barulhento.

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