FUSEX sob pressão: associações e militares revelam falhas graves, exclusões irregulares e desassistência nacional
O Fundo de Saúde do Exército (FUSEX), responsável pela assistência médico-hospitalar de militares da ativa, reserva, pensionistas e dependentes, enfrenta uma crise profunda que se intensificou nos últimos anos. Relatos de desassistência, exclusões de beneficiários, demora na liberação de procedimentos e falhas administrativas se multiplicam em diversas regiões do país, acendendo alerta entre famílias que dependem do sistema para garantir tratamento básico e especializado.
Atendimento insuficiente e atrasos crescentes

Beneficiários relatam dificuldade para conseguir consultas, exames e cirurgias essenciais. Um dos casos de maior repercussão recente envolve um adolescente com hidrocefalia grave que, segundo familiares, teve atendimento multidisciplinar negado pelo plano — mesmo diante de risco iminente.
Em locais como Campos dos Goytacazes (RJ), militares denunciam suspensão de guias sob alegação de “falta de verba”. Há ainda registros de perda de prontuários, encaminhamentos para cidades distantes e cirurgias aguardadas há meses. No Acre, diante da falta de rede credenciada, beneficiários relatam que são direcionados a hospitais públicos, mesmo contribuindo mensalmente para o FUSEX.
Exclusões após a Portaria 244-DGP e insegurança jurídica
A Portaria 244-DGP, de 2019, redefiniu critérios de inclusão de dependentes e pensionistas, provocando exclusões em massa — muitas envolvendo idosos e pessoas com doenças crônicas.
Associações militares afirmam que a medida trouxe insegurança jurídica e comprometeu direitos históricos. Entre as entidades que atuam ativamente no tema estão:
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Associação Beneficente Militar do Brasil (ABEM do Brasil);
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Associação dos Veteranos do Quadro Especial do Acre (AVEQEA).
Ambas vêm acompanhando denúncias, subsidiando ações judiciais e orientando beneficiários.
Decisões judiciais recentes têm determinado o retorno imediato de pensionistas ao plano, reconhecendo a proteção à saúde como direito adquirido.
Associações pedem reforma urgente: ABEM do Brasil e AVEQEA cobram medidas imediatas
As entidades representativas apontam que, embora o FUSEX arrecade valores expressivos, a rede conveniada diminui a cada ano. A ABEM do Brasil e a AVEQEA denunciam lentidão nas autorizações, falta de transparência na administração dos créditos, ausência de médicos em guarnições isoladas e encaminhamentos que não são concluídos.
Para elas, a reconstrução do sistema deve incluir:
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auditorias independentes;
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recomposição orçamentária;
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revisão das normas de exclusão de beneficiários;
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fortalecimento da rede conveniada;
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transparência nos critérios de liberação de recursos.
Problema nacional e persistente
O padrão de queixas em diferentes estados revela um problema de alcance nacional. Militares da reserva, pensionistas e famílias vulneráveis relatam que o plano, antes visto como referência de estabilidade e proteção, passou a representar risco, incerteza e gastos não previstos.
Personagens denunciam o colapso do sistema

Com 39 anos dedicados ao Exército Brasileiro, o Terceiro Sargento Francisco Martins Borges, conhecido pelo nome de guerra Sargento Sobrinho, se tornou uma das vozes mais contundentes na denúncia da crise que atinge o Fundo de Saúde do Exército (FUSEX). O sistema, sustentado por contribuições mensais de até 3,5% da remuneração dos militares, deveria garantir atendimento médico-hospitalar para ativos, reservistas, dependentes e pensionistas. Mas, segundo relatos colhidos no Acre, a realidade está muito distante do prometido.
Ao lado de milhares de praças que relatam descaso, atrasos, insuficiência de médicos e negativas de atendimento, Sobrinho detalha uma série de episódios que, segundo ele, exemplificam o colapso do atendimento na guarnição de Rio Branco.
“Meu filho estava com apendicite e ninguém atendia”
Um dos casos que mais o marcou ocorreu quando levou seu filho ao posto médico com fortes dores abdominais.
“Meu filho estava vomitando sem parar. Fiquei horas aguardando por atendimento numa sala, com médicos conversando ao lado, enquanto meu filho piorava”, afirma.
Após insistir por atendimento, o garoto foi levado às pressas para o Hospital Santa Juliana, onde passou por cirurgia de emergência para tratar uma apendicite aguda. “Ele tinha só 9 anos. Esse foi só o começo do meu desespero”, relata.
Atendimento odontológico improvisado
Outro episódio, segundo o sargento, revela a precariedade estrutural no atendimento.
“A dentista restaurou meu dente em pé, sem nem usar a cadeira. Em dois minutos terminou o serviço. Três meses depois precisei arrancar o dente, porque não prestou”, conta.
Crise agravada no tratamento da esposa
A situação mais grave envolveu a esposa, diagnosticada com depressão. De acordo com Sobrinho, um psiquiatra contratado pelo Fusex suspendeu abruptamente o medicamento que ela utilizava, desencadeando uma piora severa.
A partir daí, iniciou-se uma peregrinação sem respostas:
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negativas recorrentes de atendimento;
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adiamento de consultas;
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falta de crédito para exames;
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ausência de leitos;
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e, segundo ele, uma sequência de decisões equivocadas por parte dos profissionais credenciados.
Sem alternativa, o sargento recorreu à medicina particular. Pagou R$ 3.297,00 em exames — sem ressarcimento — e ingressou em tratamento com uma psiquiatra no Rio Grande do Norte, via teleatendimento.
“Eu já gastei este ano cerca de R$ 30 mil do meu bolso, enquanto continuo pagando mais de R$ 700 por mês para o Fusex. É revoltante”, afirma.
O ponto crítico ocorreu quando sua esposa foi encaminhada ao pronto-socorro público, onde permaneceu dois dias em uma maca, enquanto ele buscava, sem sucesso, uma vaga em psiquiatria. Depois de insistência, a direção abriu uma ala desativada e liberou quatro leitos. “Só assim minha esposa finalmente recebeu o tratamento adequado”, afirma.
Um histórico de dedicação ignorado
A indignação de Francisco é reforçada por sua trajetória militar:
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24 anos e 2 meses na ativa;
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21 anos servindo em fronteiras, longe da família;
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diversas missões reais, incluindo a Operação Timbó;
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todas as medalhas de comportamento, mérito e tempo de serviço.
“Quase 40 anos dedicados ao Exército. Nunca falhei em uma missão. Hoje, na reserva, trabalho de segunda a sexta para sustentar família e saúde. E nem a assistência mais básica funciona”, lamenta.
“Do dia 1º ao 5 tem crédito. Depois disso, acabou.”
As denúncias não vêm apenas de Sobrinho. O Segundo Sargento José Ferreira da Silva, na reserva desde 2012 após 23 anos de serviço, enfrenta situação semelhante.
Ele afirma que o Fusex só oferece atendimento entre o dia 1º e o dia 5 de cada mês — período em que há “crédito” disponível para guias, exames e autorizações.
“Depois disso, acabou. Não tem guia, não tem internação, não tem nada. Minha esposa precisou de três internações. Na terceira, não tinha mais crédito, e ela estava usando morfina”, relata.
Diante da negativa, sua esposa foi enviada ao pronto-socorro público, onde ficou dez dias internada. Ele chegou a pagar R$ 1.800 por exames particulares — sem ressarcimento até hoje.
Posto médico em reforma permanente e médicos desmotivados
Os relatos convergem: falta estrutura, falta gestão e falta responsabilidade.
“O posto médico é uma obra eterna, cheio de improvisos. Você chega lá e vê médicos conversando ou mexendo no celular. Poucos realmente atendem com dedicação”, denuncia Sobrinho.
Segundo ele, muitos profissionais contratados evitam trabalhar com o Fusex devido a atrasos de pagamento.
“Eles próprios dizem que é o pior plano que existe”, afirma.
A ABEM do Brasil acompanha relatos similares em outras regiões, reforçando que a falta de previsibilidade financeira tem comprometido o acesso à saúde.
Pressão por mudanças cresce em todo o país
Com denúncias que envolvem desde falta de médicos até restrições orçamentárias, associações como ABEM do Brasil e AVEQEA, além de militares ativos e da reserva, cobram reformas profundas no FUSEX. As entidades defendem modernização da gestão, ampliação da rede credenciada e revisão de normas que têm deixado milhares de famílias sem assistência.
Enquanto isso, beneficiários continuam enfrentando longas esperas, atendimento limitado e despesas particulares que deveriam ser cobertas pelo plano.
Posicionamento do Exército Brasileiro
O site procurou o Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEx) para solicitar esclarecimentos sobre os fatos relatados. As perguntas foram enviadas ao e-mail imprensa@ccomsex.eb.mil.br.
Em resposta, o Exército informou:
*“Em resposta à sua demanda enviada por e-mail em 4 de dezembro de 2025, o Centro de Comunicação Social do Exército informa que os dados solicitados serão melhor atendidos por meio dos canais da Lei de Acesso à Informação (LAI).
Atenciosamente,
CENTRO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO EXÉRCITO
EXÉRCITO BRASILEIRO
BRAÇO FORTE – MÃO AMIGA”*
O espaço permanece aberto para eventuais esclarecimentos adicionais por parte do Exército Brasileiro.
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