Em discurso na cúpula em Joanesburgo, presidente defende eliminação gradual dos combustíveis fósseis, combate à desigualdade e financiamento robusto para adaptação climática.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste sábado (22) que o G20 tem a responsabilidade de conduzir um novo modelo econômico global baseado na transição energética e na resiliência climática. A declaração ocorreu durante a sessão do grupo dedicada à redução do risco de desastres, mudanças do clima, transição energética justa e sistemas alimentares, em Joanesburgo, na África do Sul.
Segundo Lula, as maiores economias do mundo precisam atuar de forma simultânea para acelerar medidas de enfrentamento à crise climática e preparar a sociedade para seus efeitos já inevitáveis. “O G20 cumpre papel central em ambas”, destacou. Ele lembrou ainda que o grupo é responsável por 77% das emissões globais, o que atribui às nações-membro a obrigação de liderar a transição para longe dos combustíveis fósseis.
O presidente citou o avanço brasileiro na condução das negociações da COP30, realizada em Belém, mas reconheceu frustrações manifestadas por representantes da sociedade civil, especialmente pela ausência de um cronograma claro para a eliminação de combustíveis fósseis. Lula reforçou que o debate deve continuar e que “a semente dessa proposta foi plantada”.
Ele destacou ainda o documento aprovado pelo G20 sob liderança sul-africana — os Princípios Voluntários para Investir em Redução de Risco de Desastres —, enfatizando a urgência de investimentos de longo prazo em adaptação. Para Lula, sistemas de alerta não bastam diante dos impactos crescentes do clima sobre infraestrutura, produção de alimentos, energia e deslocamentos populacionais. “Construir resiliência não é gasto, é investimento”, afirmou.
Lula também relacionou a adaptação climática ao combate à fome e à pobreza. O presidente relembrou a Declaração de Belém sobre Fome, Pobreza e Ação Climática Centrada nas Pessoas, lançada durante a COP30, que reforça três compromissos: fortalecer a proteção social, apoiar pequenos produtores e oferecer alternativas sustentáveis de subsistência para comunidades que vivem nas florestas.
Crescimento inclusivo e combate à desigualdade
Na primeira sessão da cúpula, dedicada ao crescimento econômico sustentável e inclusivo, Lula defendeu a taxação de super-ricos e a conversão de dívidas de países pobres em investimentos climáticos e de desenvolvimento. Ele sugeriu que a desigualdade seja tratada como “emergência global” e apoiou a proposta de criação de um Painel Independente sobre Desigualdade, nos moldes do IPCC, liderada pelo economista Joseph Stiglitz.
Para o presidente, o protecionismo e o unilateralismo têm ressurgido como respostas simplistas a crises complexas, e somente o multilateralismo poderá garantir soluções duradouras. “A austeridade aprofundou desigualdades e ampliou tensões geopolíticas”, afirmou.
Agenda e relações bilaterais
Lula desembarcou em Joanesburgo na sexta-feira (21) e se reuniu com o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa. Eles discutiram os resultados da COP30 e os rumos do G20, concordando que ambos reforçaram o papel do multilateralismo. Lula convidou Ramaphosa para visita de Estado ao Brasil em 2026 e defendeu avanços no acordo entre o Mercosul e a União Aduaneira da África Austral, visando ampliar o comércio entre os dois países.
O presidente segue agenda no domingo (23) em novas sessões do G20 e em reunião do Fórum de Diálogo Índia-Brasil-África do Sul (Ibas). Depois, embarca para Maputo, em Moçambique, para visita de trabalho que celebra 50 anos de relações diplomáticas entre os países, antes de retornar ao Brasil na segunda-feira (24).
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