CPI do Jockey: o cavalo milionário de Marconi

Compartilhar:
Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
[views count="1" print= "0"]
[tta_listen_btn listen_text="Ouvir" pause_text="Pause" resume_text="Retomar" replay_text="Ouvir" start_text="Iniciar" stop_text="Parar"]

CPI vai apurar suspeitas de desvio de R$ 83 milhões em incentivos fiscais e verbas da Lei Rouanet destinadas ao Jockey Club de São Paulo. Ex-governador nega envolvimento

 

A Câmara Municipal de São Paulo aprovou, na última quarta-feira (29/10), a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar suspeitas de desvio de R$ 83,6 milhões em recursos públicos e irregularidades fiscais envolvendo o Jockey Club de São Paulo. A decisão ocorre após reportagem do UOL revelar que parte dos incentivos fiscais concedidos à entidade teria sido desviada para empresas e pessoas próximas ao ex-governador de Goiás e presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo.

A CPI, proposta pelo vereador Gilberto Nascimento (PL), pretende apurar gestão de débitos tributários, alienação de potencial construtivo e omissões de órgãos públicos. O colegiado, que contará com nove membros, ainda aguarda definição da data de instalação. Para viabilizar a investigação, o Legislativo paulistano alterou o Regimento Interno, permitindo a criação de até quatro CPIs simultâneas nas sessões de 2025 e 2026.

O foco das investigações

Segundo as denúncias, o Jockey Club teria recebido R$ 22,4 milhões via Lei Rouanet e R$ 61,2 milhões por mecanismos municipais de compensação fiscal. Parte desses valores teria sido direcionada a empresas com vínculos diretos com o ex-governador.

Entre elas está a produtora cultural Elysium, responsável pela representação do Jockey desde 2020. A empresa foi transformada em Organização Social de Cultura (OSC) em 2014, por decreto assinado pelo próprio Perillo, quando ainda era governador de Goiás. Documentos apontam que a Elysium contratou fornecedores ligados à família de Débora Perillo, prima do tucano, e repassou valores expressivos a construtoras sem sede física ou com atividades incompatíveis com os contratos firmados.

A Construtora Vidal, por exemplo, recebeu R$ 11,2 milhões, mas não foi localizada nos endereços informados — um deles, um apartamento residencial no Itaim Bibi. Já a Ambiência Arquitetura e Restauro, listada como beneficiária de R$ 1 milhão, negou ter realizado qualquer obra de valor semelhante. A empresa Biapó confirmou ter participado das reformas, mas não informou os valores recebidos.

Além disso, auditorias identificaram notas fiscais duplicadas em prestações de contas apresentadas tanto à Prefeitura de São Paulo quanto ao Ministério da Cultura, o que resultou na rejeição das contas do Jockey.

Gastos incompatíveis e irregularidades

As despesas suspeitas incluem compras de medicamentos, dedetizações em Goiânia e jantares em restaurantes de luxo da capital paulista, como Osaka e Aze Sushi — todos pagos com verba pública. A Elysium justificou os gastos como “custos administrativos”, mas o Ministério da Cultura já havia vetado o uso de recursos da Lei Rouanet para cobrir despesas com bebidas alcoólicas e refeições não diretamente ligadas à execução dos projetos culturais.

Reação de Marconi Perillo

O ex-governador Marconi Perillo, que se mudou para São Paulo em 2019 após perder a eleição para o Senado por Goiás, passou a integrar o conselho do Jockey Club em 2022. Ele negou qualquer envolvimento nas irregularidades, classificando as denúncias como “leviandade absurda”.

Perillo afirmou conhecer apenas “de vista” a empresária Débora Perillo e disse que a coincidência de sobrenome “não caracteriza relação pessoal”. O tucano também acusou setores da imprensa de promover uma campanha de ataques políticos, alegando que as contas do Jockey e da Elysium estão regulares e auditadas.

Enquanto isso, a CPI deve iniciar os trabalhos nas próximas semanas, com expectativa de convocar diretores do Jockey, representantes das empresas contratadas e ex-integrantes do governo de Goiás. A investigação promete lançar luz sobre uma possível rede de favorecimentos cruzados envolvendo recursos da cultura e benefícios fiscais milionários.

Mais lidas

A ILUSÃO DAS MEGAOPERAÇÕES: “TIRO, PORRADA...
PCDF desmonta ponto de drogas em operação ...
Senac-DF leva talentos da gastronomia para...
...