Descumprimento judicial, conflito de interesses e dívidas de mais de R$ 33 milhões expõem possível esquema envolvendo as empresas Nova Gestão Investimentos e W80 Empreendimentos
O que deveria ser o sonho da casa de férias em Caldas Novas (GO) — cidade reconhecida mundialmente por abrigar o maior manancial de águas termais naturais do planeta — transformou-se em um verdadeiro pesadelo para centenas de famílias. Reportagens do portal Tudo OK Notícias vêm revelando um intricado possível esquema que envolve fraudes, desvios de recursos, superfaturamento e conflitos de interesse, colocando em xeque a administração de empreendimentos que arrecadam milhões de reais mensalmente com os condôminos.
Entre as irregularidades mais graves, há denúncias de descumprimento de decisões judiciais relacionadas à gestão financeira, com a destinação indevida de pagamentos das cotas imobiliárias para empresas distintas daquelas contratualmente previstas — prática que pode caracterizar burla à Justiça e lesar tanto fornecedores quanto cotistas.
Recuperação judicial de empresas envolvidas
No centro das investigações estão as empresas Nova Gestão Investimentos e Participações Ltda. e W80 Empreendimentos Imobiliários Ltda., ambas responsáveis por empreendimentos no modelo de multipropriedade. As companhias ingressaram recentemente com pedido de recuperação judicial, alegando dificuldades financeiras e risco iminente de falência.
De acordo com os autos, as requerentes informaram possuir dívidas que ultrapassam R$ 33 milhões (R$ 33.095.794,84), comprometendo a maioria dos recebíveis de suas atividades. Sem liquidez para cobrir despesas básicas e operacionais, as empresas atribuíram a crise à retração do setor turístico e aos impactos econômicos da pandemia da Covid-19 — sem, contudo, detalhar os vultosos investimentos realizados em outros estados, que somariam milhões de reais.
A Justiça de Goiás deferiu o processamento da recuperação judicial, reconhecendo que as empresas atendem aos requisitos da Lei nº 11.101/2005. A decisão suspende ações e execuções contra as devedoras por 180 dias e garante a manutenção da posse de bens essenciais. Entretanto, o magistrado negou o pedido para suspender execuções contra avalistas e coobrigados, assim como a retirada dos nomes das empresas dos cadastros de inadimplentes (SPC e Serasa), em consonância com entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Foi nomeada como administradora judicial a empresa Cincos Consultoria Organizacional de Resultado Ltda., sob responsabilidade do profissional Stenius Lacerda Bastos, que acompanhará o processo e a execução do plano de recuperação. As devedoras têm 60 dias para apresentar a proposta de reestruturação, sob pena de convolação em falência.
Reuniões estratégicas e novos negócios

Em 2024, o Grupo Empresarial AM Investimentos e Participações promoveu uma reunião estratégica com seus sócios — André Ladeira, Marcos Freitas e Thiago Silva — e representantes das empresas investidas. O encontro, realizado no Alta Vista Thermas Resort, em Caldas Novas, teve como foco o planejamento de negócios para 2024.
As operações da holding na região estão sob o comando do Grupo Guarany, do qual a AM detém participação juntamente com os empresários Charles Kriunas e Alexandre Adailton. Procurado pela reportagem, Charles Kriunas não respondeu às perguntas encaminhadas, optando pelo silêncio.
Os interesses do Grupo Guarany ultrapassam o setor hoteleiro, abrangendo multipropriedade, mineração de água termal com seis poços ativos, gestão imobiliária, loteamentos e construção de moradias populares. Durante a reunião, também foram discutidos planos para construção de 500 casas populares, novo loteamento às margens do Lago Corumbá, em área de 1 milhão de metros quadrados, e outras iniciativas imobiliárias com meta de faturamento de R$ 200 milhões em 2024.
Relações empresariais e falta de transparência

Em entrevista ao Tudo OK Notícias, o Dr. Rildo Lasmar confirmou conhecer Marcos Freitas como sócio em uma empresa odontológica, mas afirmou não saber se familiares do empresário também integram o quadro societário. Questionado sobre as suspeitas de desvios de recursos, declarou “não ter conhecimento”.
Ao ser perguntado sobre sua relação com André Luiz Garcia Ladeira e Marcos Freitas, disse apenas conhecer ambos, sem envolvimento direto. Admitiu participar de três sociedades com o filho, e, sobre a origem das parcerias, afirmou:
“Na época foi feito assim.”
Em 2024, a holding AM Investimentos e suas controladas — entre elas A&B (restaurantes em São Paulo), Rildo Lasmar (odontologia), Belato (nutrologia), Businessland (entretenimento) e uma incorporadora em Orlando (EUA) — projetaram receita de R$ 150 milhões em 2023 e R$ 500 milhões para 2024.
Os sócios André Ladeira e Marcos Freitas, conhecidos por fundar e gerir a WAM Brasil (vendida em 2022), vêm aplicando o know-how adquirido no antigo grupo na condução da AM Investimentos. A meta da holding é atingir R$ 1 bilhão de faturamento até 2026, com expansão prevista para Europa, Dubai e Miami.
Investigações em andamento
Apesar das projeções ambiciosas e da imagem de solidez corporativa, crescem as suspeitas de que o grupo utiliza recursos de condôminos e empreendimentos em Caldas Novas para sustentar sua expansão, deixando para trás fornecedores, parceiros e proprietários de cotas.
Os indícios apontam para um complexo esquema de gestão irregular e possível desvio milionário, cujos desdobramentos podem revelar um dos maiores escândalos empresariais da história recente do turismo imobiliário em Goiás.
Cabe agora à Justiça aprofundar as investigações e responsabilizar os envolvidos, a fim de proteger os condôminos e restabelecer a transparência em um setor que movimenta cifras bilionárias e atrai milhares de investidores de todo o país. A reportagem entrou em contato com o Dr. Marcos Freitas, que até o presente momento não atendeu às ligações.
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