Bolsonaro errou?

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Foto:Tânia Rêgo/Agência Brasil
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De qual Brasil estamos falando?

 

Por Carlos Arouck

 

O Estadão escreveu que, quando o bolsonarismo perde, o Brasil ganha. Mas de qual Brasil se trata? Certamente não do Brasil real, que acorda cedo, trabalha, paga impostos e carrega o país nas costas. O que eles têm em mente é o Brasil da elite burocrática, política e midiática, que sempre viveu de um sistema privilegiado e blindado contra vozes externas.

Qual teria sido o grande “mal” do bolsonarismo? Polarizar o país, romper a “paz institucional”? Ou, pela primeira vez, dar voz a milhões de brasileiros que estavam condenados ao silêncio? O incômodo não está no que o bolsonarismo destruiu, mas no que ele se recusou a aceitar: a domesticação pelo sistema.

No Brasil, toda causa legítima, seja em defesa da mulher, do autista ou do deficiente visual, acaba absorvida pelo Estado. Transformam-se em ONGs dependentes de verbas públicas e, assim, perdem a autonomia. O que nasce como movimento social termina aprisionado na burocracia estatal. É sufocamento por assimilação. O bolsonarismo quebrou essa lógica. Manteve-se orgânico, popular, incontrolável. Justamente por isso, é desqualificado diariamente.

Até pouco tempo, a posição do Partido Liberal era seguir o que Bolsonaro decidisse. Diziam que estavam fechados com o ex-presidente. Mas até o momento não se manifestaram nem com uma moção de repúdio à sua condenação. A lógica é sempre a mesma: quando Bolsonaro diz o que agrada ao partido, é líder incontestável; quando resiste, criticam.

A chamada “anistia light” não é anistia. É maquiagem. Uma manobra para preservar o regime sem mudar o regime. Bolsonaro entendeu isso. Não é ele que precisa de ajustes é o sistema que tenta esconder sua própria violência.

Vale lembrar: 27 anos de pena equivalem a uma sentença de morte política. Reduzir para 16 anos pode parecer menos grave, mas, na prática, legitima abusos sob a etiqueta de “dosimetria”. Endossar isso é normalizar o arbítrio.

É possível reconhecer erros. Bolsonaro acreditou que poderia enfrentar as forças não eleitas sem alianças sólidas fora dele. Confiou que a Justiça respeitaria as regras, quando o jogo já estava marcado. Subestimou a força dos bastidores e o empenho das elites em defender privilégios.

Foram erros de cálculo, não de caráter. Ele apostou na franqueza e recusou os atalhos que o sistema oferece. Se tivesse adotado a esperteza dos bastidores, talvez hoje não estivesse sob ataque. Mas teria perdido justamente o que o diferencia, que é a recusa em ser domesticado.

Por isso, a resposta à pergunta “Bolsonaro errou?” é dupla: sim, errou ao confiar em um sistema que queria destruí-lo; mas não errou ao resistir à maquiagem que pretende legitimar esse mesmo sistema.

No fim, a discussão não é se Bolsonaro errou. O dilema real é outro: vamos aceitar a maquiagem que protege o sistema ou teremos coragem de exigir a verdade dura, incômoda, mas capaz de transformar o Brasil?

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