O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que já tem vários seguidores nas redes sociais divulgando a candidatura para a presidência em 2022, afirmou que que deixou o cargo em 16 de abril por divergências públicas com Jair Bolsonaro. Durante as ações do governo em relação ao combate à pandemia de coronavírus, ele obtou por não criticar as decisões do presidente acerca do tema. Mandetta concedeu entrevista à Rádio Gaúcha, na manhã de quarta-feira (6).
“Não cabe a mim julgar se a decisão do presidente é certa ou errada”, esquivou-se. “É uma prerrogativa do presidente da República nomear e substituir, trocar os seus ministros quando ele entende que os ministros não estão correspondendo àquelas políticas que ele crê serem as mais corretas para as diversas pastas”, justificou.
“Uma conversa amigável, o presidente colocou que ele gostava muito da minha pessoa mas que ele teria que fazer substituições”, ressaltou.
Ouça a entrevista completa com Mandetta abaixo:
De acordo com o ex-ministro, a saída ocorreu por causa de um descompasso com as ideias e as prioridades do presidente, as quais Bolsonaro julgou serem “incompatíveis” com a permanência de Mandetta à frente da pasta.
Para o ex-ministro, enquanto a preocupação era com as condições do sistema de saúde, o presidente “entendia que os problemas econômicos são mais graves e mais importantes de serem atendidos do que a saúde”. Questionado sobre os efeitos da adoção de uma postura contrária ao isolamento por parte do chefe do Executivo nacional, Mandetta afirmou que o impacto foi mais sentido pelos governadores e prefeitos.
“A maneira como o presidente fez a sua crônica nesse período diminuiu muito a força dos governadores e dos prefeitos, principalmente em relação aos comerciantes, aqueles que precisam que as pessoas estejam em aglomeração. Pessoal das igrejas, o público do segmento de entretenimento e cultura, estádios de futebol. Enfim, todos aqueles que vivem da aglomeração (…) passaram a pressionar prefeitos e governadores para que eles flexibilizassem seus respectivos segmentos”, avaliou.
Prognósticos
As projeções feitas pelo Ministério da Saúde haviam indicado que o pico da doença no Brasil seria entre os meses de maio e junho. Questionado sobre essas estatísticas, Mandetta explicou que a projeção se deu através de um consenso entre os cenários dele, do então secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson Oliveira, e do agora ex-secretário-executivo da pasta, João Gabbardo dos Reis.
“O vírus iria se apresentar em fevereiro e março. Em abril, se tomássemos medidas de isolamento, a gente teria provavelmente condições de atrasar esse vírus até maio, e se tivéssemos muita atenção, talvez levá-lo (o pico) até junho. Mas chegaria uma hora que a gente veria a movimentação e não teria como não ascender. E nós teríamos o aumento de casos em maio, teríamos aumento de casos durante mês de junho. Em julho, chegaríamos no platô. Em agosto, iniciaríamos a queda do número de casos para, em setembro, estarmos voltando mais à normalidade”, disse.
O ex-ministro afirmou, contudo, que nunca gostou muito de cenários, uma vez que eles causam apreensão nas pessoas. Ainda assim, reforçou que essas projeções são mutáveis.
“Cenários dependem muito de variáveis que podem fazer com que isso se potencialize, que seja maior ou menor. O vírus depende muito da dinâmica da sociedade, de como a sociedade vai fazer para se relacionar com ele. Se ela consegue um relacionamento onde essa dinâmica é mais de afastamento, é mais de isolamento, ele tem uma velocidade menor”, afirmou.