Mesmo depois da orientação do Ministério da Saúde de não vacinar adolescentes sem comorbidades contra a Covid-19, 21 capitais e o Distrito Federal decidiram continuar vacinando os jovens.
As faixas etárias variam conforme o lugar, e a aplicação depende do estoque de doses disponíveis, informou a TV Globo.
Porto Alegre, Florianópolis, São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória, Belo Horizonte, Palmas, Belém, Macapá, Boa Vista, Rio Branco, Porto Velho, Manaus, Maceió, Fortaleza, São Luís, Recife, Aracajú, Salvador, Campo Grande e Distrito Federal seguem com a vacinação de adolescentes.
No caso de Salvador, Porto Velho e Manaus, a vacinação dos jovens retornou neste sábado (18) após interrupção de 24 horas.
Já Natal anunciou neste sábado que vai começar a aplicar as doses na segunda-feira (20).
Goiânia e João Pessoa preferiram seguir a orientação do Ministério da Saúde e interromperam a imunização desta faixa etária. Já Teresina, Curitiba e Cuiabá ainda não começaram a vacinar esse público.
Demissão em massa
Na sexta-feira (17), médicos que fazem parte da Assessoria de Câmara Técnica do Ministério da Saúde se reuniram virtualmente. Os médicos ameaçaram pedir demissão caso a pasta não recue da orientação contrária à vacinação de adolescentes.
A interlocutora foi a secretária de Atenção Especializada à Saúde, Rosana Melo. O tom foi de ultimato: ou o ministério retoma a vacinação dos adolescentes, informa que a câmara técnica não foi consultada e se retrata com os cientistas e pesquisadores, ou eles vão renunciar.
Os integrantes da Câmara Técnica alertaram que o governo usou dados equivocados para fundamentar a decisão.
Em nota técnica, o Ministério da Saúde informou que a Organização Mundial de Saúde (OMS) não recomenda a imunização de crianças e adolescentes, o que não é verdade. A orientação da OMS é que a vacina seja aplicada em adolescentes quando a cobertura vacinal estiver alta nos grupos prioritários.
Segundo o infectologista Francisco Oliveira Junior, a reação dos médicos da Câmara de Assessoramento demonstra mais um desgaste provocado por manifestações do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em descompasso com critérios técnicos, e que a vacinação de adolescentes contra a Covid-19 já se comprovou eficiente e necessária no Brasil e no mundo.
De acordo com o infectologista, o ministro Queiroga citou 1.500 reações adversas registradas em 3,5 milhões de doses aplicadas, o que representa 0,04% de taxa de reação vacinal, que para Oliveira Junior é “baixíssimo”.
“Na verdade, se espera até mais do que isso. Então essa taxa não justifica por si só, e nenhum ouro fato acontecido justificaria a suspensão da vacinação baseada unicamente em critérios de segurança. A gente sabe que essa vacina já foi aplicada em mais de 10 bilhões de adolescentes nos EUA, ela está sendo aplicada no Canadá, países europeus, em Israel, a gente já tem experiência acumulada que nos permite, com segurança, garantir que essa vacina é segura”, diz.
Para ele, qualquer outra vacina, como qualquer outra medicação, não é isenta de efeitos adversos e colaterais.
“Mas quando se faz a avaliação do risco e dos benefícios da vacina, é favorável amplamente à continuidade da vacinação, não apenas considerando o efeito individual, a proteção individual conferida por essa vacina para o adolescente, mas principalmente o efeito coletivo de aumentar a proteção da comunidade, expandindo o percentual de pessoas vacinadas e contribuindo para o atingimento da imunidade coletiva”, explica o infectologista.