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Por Gerson Gomes

O presidente Donald Trump, sem interromper suas férias na Flórida, autorizou um ataque aéreo em Bagdad, que vitimou o renomado General iraniano Qassem Soleimani, comandante da Força de Elite Quds (da Guarda Revolucionária do Irã), principal responsável pelas ações militares (e terroristas) daquele país fora do território persa. Na mesma ação foi morto Abu Mahdi al-Muhandis, subcomandante geral das milícias xiitas no Iraque, as denominadas “Forças de Mobilização Popular”, treinadas e patrocinadas pelo Irã.

Suleimani era acompanhado pelos serviços de Inteligência há muitos anos. Passou a última década exportando o modelo que ajudou a organizar no Líbano (com o Hezbollah) para o Iraque, a Síria e para o Iêmen. Sua tática era edificada por intermédio de milícias locais, irrigadas com armas sofisticadas e conhecimento de guerrilha urbana. Na Síria, suas forças se aliaram à Rússia para sustentar o regime de Bashar al-Assad. No Iraque, as milícias de Suleimani se impuseram junto ao governo por meio de uma forte insurgência contra as forças americanas e da coalizão.

A tensão com Teerã vinha sendo escalada há meses, desde a retirada unilateral norte-americana do acordo nuclear costurado com o Irã pelo antecessor de Trump na Casa Branca, Barack Hussein Obama II, 44o presidente da história dos EUA (2009-2017). Em 20 de junho de 2019, na esteira de vários incidentes envolvendo navios tanque no golfo de Omã (próximo ao estreito de Ormuz), a Guarda Revolucionária Iraniana, abateu um drone de reconhecimento RQ-4A Global Hawk BAMS-D norte-americano (no valor estimado de 220 milhões de dólares) sobre águas internacionais. Trump abortou um contra-ataque, já em andamento, postergando a esperada retaliação militar.

Em 14 de setembro de 2019, drones e mísseis foram usados contra instalações produtoras de petróleo em Abqaiq e Khurais, na Arábia Saudita. Guerrilheiros Houthis do Yemen, treinados por prepostos de Suleimani e apoiados militarmente pelo Irã, reivindicaram a autoria dos ataques. Mais uma vez, uma reação militar norte-americana contra o Irã, em apoio aos sauditas, foi descartada pelo presidente dos EUA. Todos os aliados dos americanos na região (não por coincidência sunitas) começavam a duvidar da liberdade de ação de Trump (frente à opinião pública em ano de eleição presidencial) para defendê-los contra um Irã já quase nuclearizado com apoio russo.

Trump indicava ostensivamente que manteria seu propósito de reposicionar parte de suas tropas do oriente-médio para a Ásia, assumindo ser a China (e a Rússia) as verdadeiras prioridades militares dos EUA na próxima década, em radical guinada geopolítica. Porque teria, então, abandonado sua estratégia de privilegiar a expressão econômica na asfixia do regime do Aiatolá Khamenei, autorizando um ataque tão emblemático neste momento? A resposta desta pergunta aflorou nos telejornais norte-americanos nas primeiras horas subsequentes ao cerco da embaixada americana em Bagdad: o erro dos Democratas no desastre em Benghazi não poderia ser repetido por Trump.

Em 2012, não por coincidência fortuita, no dia 11 de setembro, ocorreu um ataque coordenado contra duas instalações do governo dos EUA na cidade de Benghazi, na Líbia. Membros do grupo islâmico Ansar al-Sharia atacaram o complexo diplomático e um anexo da CIA, resultando na morte do Embaixador norte-americano J. Christopher Stevens e do diplomata Sean Smith. Stevens foi o primeiro embaixador dos EUA a morrer em missão, desde 1979. No prédio da CIA foram encontrados mortos dois agentes, Tyrone S. Woods e Glen Doherty, além de mais dez pessoas feridas.

A situação no Iraque de 2019 foi se agravando após a derrota do inimigo comum (ISIS), que oportunizou a exótica situação de coexistência “pacífica” entre tropas dos EUA e Irã em um mesmo TO (teatro de operações). Circunstancialmente “aliadas” no período da guerra, as milícias iraquianas xiitas voltaram-se (previsivelmente) contra a presença norte-americana no Iraque logo após derrotarem o “califado” do Estado Islâmico. A maioria da população iraquiana é xiita, mas a elite e grande parte da classe média urbana é sunita. Se as recentes manifestações de rua contra o governo foram organizadas na capital pelos sunitas, reclamando da crescente interferência do Irã, ataques terroristas xiitas, patrocinados pelo Kataeb Hezbollah (KH) iraquiano, se intensificaram desde outubro reivindicando a saída das tropas norte-americanas do Iraque.

O mês de dezembro foi crítico. No dia 27, um ataque em Kirkuk resultou na morte de dois policiais iraquianos e de um funcionário norte-americano. Trump e Khamenei trocaram ameaças via Tweeter e, no dia 29, ataques aéreos norte-americanos contra bases do Kataeb Hezbollah (KH) na Síria e no Iraque causaram a morte de dezenas de integrantes das milícias xiitas. A embaixada norte-americana em Bagdad foi cercada e parcialmente invadida. Trump finalmente decide autorizar o ataque ao comboio de Soleimani, envia tropas baseadas no Kuwait para reforçar a segurança da Embaixada em Bagdad e desloca mais 3.000 militares da 82a Divisão Paraquedista de Fort Bragg (na Carolina do Norte) para a zona em possível desestabilização.

O contexto eleitoral, obviamente, influenciou a decisão de Trump, que se encontra em incômodo processo de Impeachment, perpetrado pelo Partido Democrata. Como deixar de explorar politicamente o fato de Obama ser o Presidente, Joe Biden o vice, e Hillary Clinton a Secretária de Estado durante o fatídico ataque em Benghazi? Eric J. Boswell, Secretário para Segurança Diplomática foi demitido sob pressão naquele episódio e três funcionários de alto nível da pasta de Hillary foram suspensos, acusados de negligência. A diferença de postura da atual administração precisaria ficar pautada para os eleitores.

O mundo aguarda as próximas jogadas desse tabuleiro complexo da geopolítica. O Irã sem a Rússia não possui capacidade de retaliar os EUA. É possível que Putin jogue alguma “lenha na fogueira” para fixar mais tropas americanas na região, evitando o incremento de bases americanas em suas fronteiras europeias (como na Polônia e Ucrânia), que tendem a se tornar cada vez mais incômodas no contexto criado pós invasão (e anexação) da Crimeia. Para a China, por sua vez, se Trump for atraído de volta ao oriente-médio, poderá ser retardada a nova articulação estratégico-militar planejada por Trump para a Ásia.

O tema religioso subjacente (que posiciona Israel como inimigo mortal do Irã) tem sido habilmente instrumentalizado, há décadas, pelas potências militares que atuam na região. O interesse da indústria bélica, por outro lado, não deve ser desconsiderado nesse enredo. Não existe outro local, hoje, para testes e aperfeiçoamentos tecnológicos em situação real de combate. Com o esfriamento do conflito na Síria, não será surpresa para ninguém se outro palco, convenientemente localizado entre os rivais persas e israelenses (em terreno da antiga Babilônia), for escolhido pelos vários interessados na escalada militar (inclusive os vizinhos sunitas), para desespero e sofrimento do povo iraquiano.

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